RESUMEN GRUPO DE TRBAJO 11

GT 11. MEMÓRIAS E PATRIMONIALIZAÇÕES: ANÁLISES DOS BENS CULTURAIS AFRICANOS E AFRO-DESCENDENTES NA AMERICA LATINA

Coordinadores:

Sandra Pelegrini. Univ. Estadual do Maringá/Brasil. sandrapelegrini@yahoo.com.br

Ana Cristina de Souza Mandarino. Univ. Estadual de Santa Cruz/Brasil. anamandarino@gmail.com

Javier Tobar. Universidad del Cauca, Popayan/Colombia. javo@unicauca.edu.co

Comentarista: Estélio Gomberg. Univ. Estadual de Santa Cruz/Brasil. estelio68@gmail.com

 

 

Sessão1 Melodias e Performances em Pauta

 

 

MARACATUS NAÇÃO EM PROCESSO DE PATRIMONIALIZAÇÃO: IDENTIDADES EM DISPUTA

Anna Beatriz Zanine Koslinski. Doutoranda do Programa de Posgrado en Ciéncias Antropológicas de la Universidad Autónoma Metropolitana (UAM), México, DF; abzk82@gmail.com

 

Após anos de invisibilização e previsões de intelectuais de que estariam fadados ao desparecimento, os maracatus nação enfrentaram adversidades mantendo-se ativos até os dias de hoje. Atualmente, Pernambuco conta com pelo menos 27 nações de maracatu, além de um grande número de grupos culturais compostos por jovens de classe média, brancos em sua maioria que reproduzem o ritmo e a dança dos maracatus, num formato de grupo parafolclórico. O surgimento desses grupos, também conhecidos por grupos percussivos, se inserem num contexto de valorização da referida forma de expressão, bem como o processo de patrimonialização dos maracatus nação que se iniciou em 2011 por meio de um Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e que se encerrou em dezembro de 2014, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) concederam-lhe o título de Patrimônio Imaterial. Nesse contexto de valorização, muito favorecido também pelo mercado cultural, surgem também disputas identitárias e questões éticas relativas à apropriação que brancos realizam sobre a cultura negra. O processo de inventário revelou-se como cenário para essa disputa, já que grupos percussivos reivindicavam para si a identidade de maracatu nação e o direito de serem favorecidos pelo título de patrimônio e políticas de salvaguarda. A partir do exposto, o presente trabalho pretende analisar as disputas identitárias existentes entre os maracatus nação e os grupos percussivos utilizando o processo do inventário dos maracatus como pano de fundo para a questão, considerando também as dicotomias entre as noções de local, nacional e global dentro dessa disputa.

Palavras-chave: maracatus nação – patrimônio imaterial – identidade – mercado cultural – globalização.

 

 

AS CONTRIBUIÇÕES DE OSCAR DA PENHA (O BATATINHA) PARA O SAMBA BAIANO

Oyama dos Santos Lopes. Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural/UNEB (Universidade Estadual da Bahia; oyama.lopes@yahoo.com.br/ oyama.lopes@educacao.ba.gov.br

 

No século XX, o samba baiano teve em Batatinha, Oscar da Penha, um dos seus maiores poetas e compositores.  Autor de mais de 100 canções, muitas destas nunca foram gravadas. Batatinha tinha um jeito singular de compor, uma vez que lhe bastava uma caixa de fósforos para que elaborasse letras muito inspiradas, repletas de sentimentos e ironia. Este artigo pretendeincluir e analisar a contribuição do cantor e compositor baiano Oscar da Penha, levando-se em consideração os principais aspectos de sua obra, contribuinte direto para a música e cultura baiano-brasileira além de também poder analisar a afirmação identitária do indivíduo e/ou do sujeito coletivo negro e pobre nas letras das suas canções. Além disso, o gênero musical samba receberá um importante enfoque, de modo a compreender de que forma a trajetória social e histórica deste gênero musical e suas características distintas influenciaram a vida, a obra e a identidade artística de Batatinha.

Palavras Chaves: Samba – Bahia – Batatinha – Música.

 

 

A CONTRIBUIÇÃO DO CONCEITO DE MEMÓRIA COLETIVA DE HALBWACHS PARA A MÚSICA E A MEMÓRIA NO BATUQUE DA COMUNIDADE DE PONTO CHIQUE

Pâmilla Vilas Boas Costa Ribeiro. Mestranda em  Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais; pamillaribeiro@gmail.com

 

No cerne das representações coletivas, Durkheim marca uma passagem das teorias apriorísticas para uma sociologia pautada pela importância da coletividade. Sua inegável influência reverbera até hoje nos estudos sociológicos e, desde a época de sua intensa produção, foi transformando o pensamento de diferentes teóricos. Um deles, Maurice Halbwachs, cunhou o termo memória coletiva a partir dos conceitos durkheimianos das representações coletivas. Compreender a memória produzida na coletividade, e a difusão e perpetuação dessas categorias pelos indivíduos, também marcou um passo importante nos estudos da memória. Memória essa que se transfere pela música e pelo ritmo em diferentes grupos sociais como o batuque da comunidade de Ponto Chique, cidade ribeirinha do rio São Francisco, situada no norte de Minas Gerais. Nesse sentido, o artigo pretende discutir a importância do pensamento de Durkheim na obra de Halbwachs e como essa ideia de uma memória coletiva nos ajuda a compreender manifestações sociais   que ressignificam a tradição pela música, como no caso do batuque da comunidade de Ponto Chique. Para Halbwachs, é o ritmo que desempenha o papel principal em nossa memória. O ritmo não existe na natureza, ele é um produto da vida em sociedade. O ritmo no batuque  de Ponto Chique, manifestação com origem na diáspora africana, é dado pelo grupo no momento da roda. Batem as caixas, puxam o roncolho, o homem chama o canto e as mulheres respondem, dançam e batem o ombro-a-ombro. Todas essas relações são eternizadas e perpassam o momento do batuque, ou seja, para além das palavras, é o ritmo que produz novas significações sobre os acontecimentos.

Palavras Chave: batuque, memória coletiva, transmissão de memória, música, diáspora.

 

 

SAMBA DE TERREIRO: MEMÓRIA, MÚSICA E RELIGIÃO NO SUL DA BAHIA, BRASIL

André Luiz Rosa Ribeiro. Professor Titular Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC (Brasil) andre.5@bol.com.br

 

A pesquisa buscou identificar e divulgar um conjunto de musicas e ritmos de sambas tradicionais característicos de cerimônias religiosas e festivas nas comunidades dos mais tradicionais terreiros do Território Litoral Sul da Bahia, a saber: Matamba Tombenci Neto, Ilê Axé Guaniá de Oiá, Terreiro de Luando, em Ilhéus e Ilê Axé Oiá Funké, em Itabuna. Os roteiros das entrevistas foram elaborados com a participação efetiva dos membros das comunidades citadas com o objetivo de construir coletivamente uma abordagem da identidade afro-brasileira pela música, entendida como elemento fundamental de resistência e de memória do povo negro. É muito forte a influência da música negra no Sul da Bahia, historicamente definida pela presença de povos africanos e dos seus descendentes desde o período colonial. Dentro deste panorama destaca-se a presença marcante do samba de terreiro (também conhecido como samba de roda) nas comunidades religiosas de matriz afro-brasileira e nas atuações dos mestres da cultura popular. O Sul da Bahia recebeu todas essas influências vindas das comunidades de povos de terreiro, especialmente de origem banto. Influências incorporadas culturalmente em seu dia-a-dia, como forma de expressão e filosofia de vida nas rodas de capoeiras, nas cerimônias festivas dos templos religiosos de matriz afro-brasileira.

 

 

PATRIMONIALIZAÇAO E RECONHECIMENTO ÉTNICO: O CASO DE UM GRUPO DE CAMPONESES QUE FAZEM MÚSICA PATIA – CAUCA – COLOMBIA

Janeth A. Cabrera Bravo. Doutoranda em Antropologia Social. Universidade de Brasília

janethcabrera05@gmail.com

O objetivo deste artigo é refletir sobre os processos pelos quais o patrimônio cultural imaterial -PCI- no marco das “políticas de patrimônio” estruturam e veiculam reconhecimentos étnicos. Me proponho explorar o campo discursivo de tais políticas desde a problematização dos processos de patrimonialização das expressões musicais das populações negras na Colômbia, particularmente no caso das agrupações presentes no vale interandino do Patía (Cauca – Colômbia), conhecidos sob o genérico de “violinos caucanos” ou “violinos de negros”, eles interpretam ritmos de denominações regionais, relacionados com festividades, santos padroeiros, cerimônias fúnebres e, mais recentemente, em eventos exclusivos para a exibição artística. A partir desse contexto etnográfico tentarei rastrear as dimensões praticas das politicas de patrimônio e a forma como elas se articulam com distintos processos sociais. Ressaltando que a noção de patrimônio cultural surge em um contorno semântico moderno no qual as políticas públicas têm acionado o sentido de nação e, atualmente, destacado a ideia de diversidade ou de nação multicultural. Este trabalho procura explorar como estes processos legitimadores potencializam negociações de sentido e de identidade étnica. Palavras-chaves: patrimônio cultural, musica, reconhecimento, etnicidade.

 

 

Do patrimônio às construções identitárias: As práticas e AS festividades das Irmandades dos Homens Petros em São Paulo (Brasil)

Sandra de Cássia Araújo Pelegrini, Doutora em História pela Universidade de São Paulo/USP e docente da Universidade Estadual de Maringá/ UEM/PR; sandrapelegrini@yahoo.com.br

 

O estudo da construção identitária dos afrodescendentes no Brasil implica a percepção dos espaços onde se desenvolveram suas representações do mundo e o fortalecimento de suas redes de sociabilidade que se instituem em várias instâncias, inclusive nas irmandades religiosas emergentes nos séculos XVIII e XIX. Entende-se, portanto, que a apreensão das práticas cotidianas dessa instituições pode contribuir para a compreensão das trocas e traduções realizadas entre as culturas africanas e o catolicismo praticado nas colônias portuguesas. No Brasil, as confrarias de homens pretos dedicadas ao tributo a Nossa Senhora do Rosário continuam em evidência entre as festividades celebradas em parte significativa do território nacional. Elas cresceram e foram apoiadas pela Igreja e pelos senhores de escravos até a Abolição da Escravatura, proclamada pela Leia Áurea, em 13 de maio de 1888, mas para que se institucionalizassem foram necessários enfrentamentos e negociações capazes de contemplar os interesses de todos os envolvidos. A análise de atas, relatos e registros de memorialistas, embasados nos aportes da História Cultural nos permite pensar o patrimônio paulista e investigar as fronteiras fluídas do universo social que envolveu a edificação de templos dedicados a Nossa Senhora do Rosário e as celebrações realizadas em sua reverência na cidade de São Paulo, Brasil.

Palavras-chave: Patrimônio Afro-brasileiro, Cultura material e imaterial, celebrações.

 

LAMBE SUJOS E CABOCLINHOS : DA FESTA COMO PERFORMANCE E CONTRADIÇÃO SOCIAL

Vanessa Regina dos Santos. Mestranda pelo Programa de Antropologia da Universidade Federal de Sergipe; vanessajun@ig.com.br

A festa conhecida como “teatro a céu aberto” tem como cenário as ruas da cidade de Laranjeiras, uma pequena cidade localizada no interior do Estado de Sergipe em que sua historia social foi construída por conflitos sociais dos três grupos: branco, negro e o índio, seu nome é Festa dos Lambe sujos contra os Caboclinhos. A luta apresentada teatralmente é a saga do negro em busca de liberdade, fugidos das fazendas de cana de açúcar, constroem seus refúgios nas matas e são caçados e capturados pelos índios.

O presente trabalho tem como objetivo assinalar a contribuição das principais teorias sobre festa que compreende ritos, mitos e performance, destacando os nomes de Émile Durkheim, Victor Turner, Van Gennep, Mariza Peirano e Richard Schechener entre outros autores. Primeiro fazer uma descrição etnográfica do enredo para pontuar as diversas composições que o conceito Festa esta inserido, como a ideia de quebra de rotina, uma desordem consciente e a representação dos papeis ali apresentados, ou seja, toda a ação performática segue uma logica social, perpassa além dos muros do teatro já que possui sentido e sua fundamentação é legitimada pelo momento festa.

O diálogo apresentado entre a teoria da performance e festa enaltece durante o evento dramas e as contradições sociais no sentido de se festejar a própria derrota  (lambe sujos) embasada pelo contexto , mas tomam destaque pela euforia , pela efervescência coletiva , apontam para outra ótica , a da identidade , reluzem a memoria coletiva Laranjeirensse na busca de solidificar através da patrimonialização e é pelos gestos, pelas músicas , pela roupa e demais símbolos que se observa a historia social da cidade.

Palavras-Chave: Festa, Mito/ Rito, Teatro, Performance , Dramas Sociais.

 

 

Sessão 02 – Atenções Múltiplas sobre Patrimônios

 

 

KIT DE LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E O COMBATE AO RACISMO NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM BELO HORIZONTE 

 

Aiano Bemfica Mineiro, Elisa Hipólito do Espírito Santo, Nathalie do Carmo Carvalho. 

Estudiantes de antropología social en Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Minas Gerais, Brasil; aiano.bemfica@gmail.com; elisa_hipolito@hotmail.com; nathalie-carvalho@live.com 

 

En 2003 fue promulgada la ley 10.630/03 que incluye, en carácter obligatorio, la enseñanza de Historia y Cultura Africana y Afro-brasilera en la educación básica nacional. Para el cumplimento de dicha ley, la municipalidad de Belo Horizonte (MG) creó el Kit de Literatura Afro-Brasilera. Estudios de los impactos generados por la adopción de tal Kit por las escuelas son importantes para la mejor comprensión de las contingencias experimentadas por los estudiantes negros y para enfatizar la constante necesidad de actualización de las políticas públicas. Nuestros objetivos son discutir en qué medida las obras elegidas para componer ese material realizan lo previsto por la ley y si hay, efectivamente, una inclusión del debate sobre raza y rotura de prejuicios naturalizados; cuestionar los criterios de selección de los textos; interrogar si la escuela se encuentra preparada para ese trabajo sin reproducir racismos institucionales; cómo el joven negro puede romper con el sentimiento de exclusión para tornarse sujeto conocedor y admirador de su cultura e historia. Anhelamos un futuro fin de las privaciones y perjuicios sufridos por la población negra brasilera, principalmente los niños. Este proyecto se configura por medio de investigaciones y acciones de intervención cualitativas y cuantitativas. Fueron desarrolladas acciones efectivas como el análisis de libros inseridos en el kit y entrevistas con profesionales que con él trabajan. Sin embargo, planeamos nuevas acciones que se realizarán hasta la mitad del semestre, con la producción de ciclos de conversaciones, talleres de dibujo y fotografía, entrevistas a estudiantes negros e intervenciones institucionales. 

Palabras clave:juventud, raza, educación, emponderamiento, literatura.

 

 

ACERVO DA ESCRITORA MARIA CAROLINA DE JESUS: MEMÓRIAS E ESCRITAS

Flávia Silvestre Oliveira - graduada em História e Mestre em Ciência da Informação pela UFMG

Maristela Martiniano - mestranda em Ciência da Informação pela UFMG

 

O arquivo da escritora Maria Carolina de Jesus foi recebido pelo Acervo dos Escritores Mineiros em 2014, ano do centenário de seu nascimento. O acervo foi doado doados pelo historiador paulista José Carlos Sebe Bom Meihy, um dos maiores conhecedores da literatura “caroliana” e, até então, responsável pela guarda de todo o material, que já se encontrava microfilmado. Sua obra mais conhecida, Quarto de Despejo, trata-se de um diário onde Carolina de Jesus narra a vivência de uma mulher negra, pobre, solteira em uma favela paulista. A preservação de seu arquivo no Acervo dos Escritores Mineiros é bastante representativo já que é então o único acervo de uma mulher com tais características. Diante da representatividade desse acervo para preservação de histórias e também da memória desse grupo marginalizado, o qual a escritora se inseria, é que objetivamos apresentar seu acervo, identificando o processo de acumulação e guarda nesse espaço, que não apresenta apenas como um lugar de memória, mas também de manutenção da cultura hegemônica.

 

 

RESCATE DE PETROGLIFOS EN SAN VICENTE Y LAS GRANADINAS. PATRIMONIO, AGENCIA Y MEMORIA EN UN TERRITORIO DE DISPUTA ENTRE LO GARÍFUNA Y LA SOCIEDAD COLONIAL

 

Mónica Berón. CONICET, Museo Etnográfico “Juan B. Ambrosetti”, Univesidad de Buenos Aires y Universidad del Centro de la provincia de Buenos Aires, INCUAPA- CONICET, FLACSO; monberon@retina.ar; monberon56@yahoo.com.ar

 

En el marco de un convenio de Cooperación Internacional entre la República Argentina y San Vicente y las Granadinas (Antillas Menores), correspondiente al Programa FO-AR del Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto de la República Argentina, denominado “Cooperación en la investigación y Preservación del Patrimonio Arqueológico”, se rescató durante mayo y junio de 2014 un conjunto de petroglifos en un sitio patrimonial, denominado Yambou 1. Ello constituyó la última etapa de  una serie de acciones destinadas a la recuperación del patrimonio cultural en riesgo de pérdida total, a raíz de la construcción de un aeropuerto internacional  (Argyle Airport) en la isla de San Vicente.  El organismo local que ampara estas acciones es el SVG National Trust. Dicho patrimonio pertenece a las antiguas poblaciones de las Antillas Menores, tanto los Black Caribs como los Garífuna, surgidos estos últimos de la etnogénesis con esclavos africanos de la Costa de Marfil.

Para el rescate de los bloques con imágenes grabadas se desarrolló una estrategia adaptada al caso y en la cual actuó un grupo de  geólogos bajo la coordinación de la arqueóloga a cargo del proyecto, que firma este resumen. Como continuación de estas acciones se están desarrollando tareas museográficas, de investigación- acción y de conservación que aportan a la puesta en valor de este patrimonio.

En esta presentación se detallarán las etapas y estrategias del rescate y se discutirán los usos actuales de dichas manifestaciones, su valoración y puesta en uso público y participativo.   

Palabras claves:, rescate de petroglifos, San Vicente y las Granadinas, cooperación internacional, garífunas.

 

 

DE DETENTORES DE SABER A SUJEITOS COLETIVOS AFROBRASILEIROS

Caio Csermak. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo. Orientação: Profª. Drª. Manuela Carneiro da Cunha; caio.csermak@gmail.com

 

O presente trabalho tem por objetivo discutir a ativação e/ou constituição de sujeitos coletivos afrobrasileiros em contextos de execução de políticas de patrimônio cultural imaterial, tendo como referências os casos do samba de roda do Recôncavo Baiano e dos congados de Minas Gerais e São Paulo. Deste modo, busco dialogar com a literatura antropológica que se debruça sobre processos de autoconstituição e ressurgimento étnico para pensar como sujeitos coletivos que compõem o universo de atores denominados como detentores de saber pelo IPHAN – como associações, grupos de cultura popular e comunidades tradicionais – têm se colocado em relação ao Estado e a academia em processos de canalização de demandas sociais, religiosas e étnicas para o campo das políticas culturais. Partindo da compreensão de que a cultura não se confunde com a etnicidade, mas que entra de modo essencial nesta, discuto como a etnicidade opera tal qual uma linguagem na medida em que traços diacríticos são capazes de criar contrastes e singularidades em processos de execução de políticas de registro, inventário e salvaguarda de bens imateriais afrobrasileiros. Por fim, elaboro uma compreensão teórica de tais processos que não se reduz a visão de que tais sujeitos coletivos são criados pela ação do Estado ou de que apresentam uma reação utilitarista a este, mas sim de que o universo de execução de tais políticas pode ativar e reconfigurar sujeitos coletivos que mobilizam elementos territoriais e étnicos para a ação social, enfatizando tanto um passado como um destino comuns.

Palavras-chave: Samba de Roda; Congado; Autoconstituição étnica; Patrimônio cultural imaterial.

 

 

MARCAS CULTURAIS E IDENTIDADE ETNICORRACIAL REPRESENTADA NAS NARRATIVAS ORAIS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE VOLTA GRANDE

Carlene Vieira Dourado, Mestranda em Crítica Cultural - UNEB/Campus II,  karlenedourado10@hotmail.com

 

O presente estudo, em fase de desenvolvimento tem como objetivo identificar as representações sociais, as marcas culturais e a identidade etnicorracial representada nas narrativas orais da Comunidade Quilombola de Volta Grande, município de Barro Alto-Ba. A coleta de dados ocorre através do registro das narrativas orais, observação participante e prática da história oral.  No que tange a fundamentação teórica, estão sendo feitas revisões bibliográficas sobre o conceito de cultura, identidade, memória, comunidades quilombolas, raça e etnicidade. Para a complementação do arcabouço teórico, a pesquisa teve como base o estudo da literatura voltada para a oralidade, uma vez que o corpus deste trabalho está focado na valorização da memória e o método para a realização deste é a história oral e sua técnica da entrevista. Espera-se, assim, identificar, mapear e analisar as marcas culturais da comunidade, bem como contribuir para a visibilidade e valorização da memória quilombola.

Palavras-chave: Comunidade quilombola; Narrativas orais; Memória; Identidade étnico-racial.

 

 

MEMÓRIAS AFRO-BRASILEIRAS NO ESTADO DO PARANÁ: AS PRÁTICAS DE VIDA DA COMUNIDADE QUILOMBOLA PAIOL TELHA

 

Delton Aparecido Felipe

 

Discutir memórias afro-brasileira implica em entender que as práticas de vida da população negra estiveram em processo de conflito com o projeto nacional brasileiro no decorrer do século XX. Os territórios tradicionais além de assegurar a sobrevivência dos povos e comunidades quilombolas constituem a base para a produção e a reprodução do seu patrimônio cultural. Na Comunidade Quilombola Paiol de Telha no centro sul do estado do Paraná-Brasil, os saberes e as práticas são transmitidos de geração a geração e envolvem um acúmulo de conhecimentos sobre os modos de vida dos descendentes de homens e de mulheres escravizados. Em seus diversos núcleos, a Comunidade resguardar suas tradições, que consiste na necessidade de registrar a sua memória por meio de suas histórias, saberes e fazeres. Ao analisarmos as suas práticas percebemos que os processos de sociabilidade que organizam a identidade desse grupo têm ultrapassado as fronteiras espaciais no qual está inserido e vem sendo gradualmente construída mediante dos novos elos que a comunidade agrega. Concluímos que a memória é o fio condutor que nos leva a entender o território quilombola da “Comunidade Paiol de Telha” como Patrimônio cultural negro no Paraná.

Palavras-chave: Memórias afro-brasileira; Patrimônio cultural; Práticas de vida; Saberes e fazeres; Comunidade Paiol de Telha.

 

 

 

 

A LUTA PELO FORTALECIMENTO DA IDENTIDADE QUILOMBOLA NO POVOADO MESQUITA

Luana Luizy Rodrigues Santos. Tema de tese de Conclusão de Curso (TCC), para bacharel em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), em 2°/2014; luanaluizy@gmail.com

Mesmo não sendo assumida devidamente pelo Estado, a situação precária dos territórios descendentes e quilombos e os diferentes sítios de matriz africana de resistência constituem uma das questões estruturais da sociedade brasileira. Os territórios quilombolas estão inseridos no bojo das comunidades tradicionais brasileiras e são grupos de grande relevância para a configuração da identidade nacional.

A quase 40 km de Brasília existe um quilombo, o Mesquita. A comunidade é formada por ex-escravos trazidos na época da mineração na antiga Santa Luzia, hoje Luziânia, em Goiás. É a comunidade quilombola mais próxima da capital. A proximidade dos poderes públicos locais e nacionais não garante necessariamente a efetivação das políticas para preservação dos modos de vida dos quilombolas, que sofrem na luta pela manutenção de suas tradições culturais e território, cada vez mais ameaçados pela expansão urbana que se iniciou com a construção da nova capital e que se intensifica com a especulação imobiliária que todo o Distrito Federal e Entorno enfrentam.

São os quilombolas responsáveis pela preservação de uma área de cerrado nativo presente na área reivindicada para demarcação. Nesta área preservam a flora local, contribuindo, consequentemente, para a preservação da fauna, das águas da região e também de seus costumes e tradições.

Existe hoje uma exclusão das matrizes africanas como formadoras do Brasil, o que prejudica o fortalecimento da identidade nacional. O artigo enfoca a luta pelo fortalecimento da identidade quilombola no povoado Mesquita, com enfoque na história e tradições que ainda preservam e os principais desafios que enfrentam.

Palavras-chave: quilombo; resistência negra; ancestralidade; território; identidade.

 

 

A INTERNET E OS USOS DE VEGETAIS NA RELIGIÃO CANDOMBLÉ: TENSÕES E PRESERVAÇÕES PATRIMONIAIS

 

Clarice Moreira Portugal. Doutoranda de Saúde Coletiva, Universidade Federal da Bahia/Brasil; clariceportugal@gmail.com

Estelio Gomberg. Professor Adjunto II da Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia/Brasi, Pós-Doutor em Ciências Sociais, Universidade Federal da Bahia/Brasil; estelio68@gmail.com

 

As transmissões dos saberes no Candomblé são estruturadas eminentemente na oralidade e nas vivências formais e informais e entre as ações estruturantes desta religião, registram-se os usos de vegetais como elementos de preservações religiosas e terapêuticas. Em tempos contemporâneos, estes espaços religiosos defrontam-se com diversos dilemas e desafios na sua manutenção, entre eles, a busca do equilíbrio entre a tensão da tradição e a modernidade. Como manter as tradições, valores do grupo e uma organização social que se estrutura na hierarquia religiosa, especialmente, no awo (segredo) dos saberes e das práticas e, conjuntamente, dialogar com a sociedade mais ampla em diversas instâncias sociais? Uma das formas deste diálogosão espaços virtuais referentes a vegetais desta religião e colocando em debate a relação entre a tensão apontada, ou seja, quais as informações que podem ser codificadas nesta linguagem visto que os conteúdos do Candomblé são eminentemente transmitidos oralmente e vivenciais; quais elementos e saberes tradicionais deste poderão estar acessíveis em um veículo público e a sujeitos diversificados? É interessante apreender as estratégias concebidas por estes veículos na disseminação destes saberes, diálogos com diversos espaços das cidades e interesses de ratificações do status patrimonial nas ações de fitoterapia nesta religião.

 

 

Sessão 03 Coleções e Preservações

 

ACERVO E MEMÓRIA AFROPERNAMBUCANA

 

Maria Elisabete Arruda de Assis. Diretora Museu da Abolição/Ibram/Minc / Doutora em Antropologia (UFPE) maria.elisabete@uol.com.br/flavel@uol.com.br

 

Este trabalho examina dois acervos musealizados, um do Centro Cultural São Paulo e outro do Museu do Estado de Pernambuco, os quais foram produzidos a partir da perseguição aos cultos de matriz africana ocorrida em Pernambuco, nordeste do Brasil, durante os anos 1930. Ambos os acervos fazem parte do mesmo período e contexto histórico, todavia, parte dele foi salvaguardado pela Missão Folclórica Mário de Andrade, que esteve em Pernambuco em 1938, e passou a fazer parte de um conjunto maior de objetos coletados pela Missão.

Esta análise compreende a formação deste acervo, sua forma de salvaguarda, e a inacessibilidade dos herdeiros destes terreiros que foram violados e tiveram seus objetos de culto apreendidos. O acervo sob a guarda do Centro Cultura São Paulo, em especial, em virtude da distância geográfica que o separa do povo de terreiro pernambucano, é exemplar para pensar ou repensar a forma de salvaguarda, que prioriza os objetos em detrimentos da sociedade que lhes tem interesse e aproximação simbólica e afetiva. Obviamente que não se ignora, nem se despreza o valor da salvaguarda. A questão a ser considerada diz respeito à acessibilidade aos objetos salvaguardados, pela sociedade como um todo, e, em particular, às comunidades que foram vítimas de violência física e simbólica a partir da qual acervos e coleções foram formados. Isto se torna mais significativo quando esta violência foi praticada pelo próprio Estado Brasileiro.

Palavras chaves: patrimonio, museu, memória, cultura afrobrasileira, religião afrobrasileira.

 

ROUPAS DE AXÉ: A COLEÇÃO DE INDUMENTÁRIAS LITÚRGICAS DO MUSEU AFRO-BRASILEIRO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

 

Daisy Conceição Santos. Possui graduação em Museologia pela Universidade Federal da Bahia (2009), Especialização em Arte e Patrimônio Cultural pela Faculdade São Bento da Bahia (2010) e Mestrado em Estudos Étnicos e Africanos pelo Pós-Afro/ Universidade Federal da Bahia (2014). Atualmente é aluna do Doutorado em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (ingresso turma 2015) e funcionária do Instituto Brasileiro de Museus, trabalhando no Museu da Abolição. Tem experiência na área de Museologia, como profissional atuante na área, e como pesquisadora de cultura material afro-religiosa; daisy.santos@museus.gov.br; daisysantos1716@gmail.com

 

O presente trabalho é parte resultante da pesquisa de mestrado realizada em 2014, com o objetivo de analisar dezesseis peças do acervo de indumentária afro-religiosa do Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia (MAFRO/UFBA). Buscou-se entender a indumentária afro-religiosa como partícipe de uma memória coletiva. A doação de peças relacionadas a orixás, voduns, e inquices – assim como vestes pertencentes a sacerdotisas de conhecimento notório no culto afro-religioso baiano – ao MAFRO/UFBA, feita por terreiros de Candomblé conhecidos enquanto “tradicionais” na cidade de Salvador e na região do Recôncavo Baiano, foi analisada e entendida como resultado de um diálogo estabelecido entre a instituição museal com a comunidade de terreiro (como assim são conhecidos os adeptos do candomblé). No entanto, as peças doadas demonstram além do apoio da comunidade afro-religiosa à instituição (valorizando a memória material dessas comunidades), também demonstra o discurso de valorização e preservação da instituição MAFRO/UFBA no seu período de idealização e inauguração (em 1982) que, não por acaso, coincide com as datas de doação do acervo de indumentárias analisado.

Deste modo, a pesquisa demonstra que o discurso preservacionista ocorre a partir das indumentárias afro-religiosas (roupas de axé) em duas vidas, comunidade e museu. Trata-se de um acervo que já adentra a instituição museal, não no sentindo de fetiche e/ou folclore como algumas coleções anteriores relacionadas à questão; as indumentárias saem dos terreiros em direção ao MAFRO/UFBA já com a necessidade e intuito de preservação e valorização, entendo-as assim como agente do patrimônio cultural afro-religioso.

Palavras-chave: Museu Afro-Brasileiro, memória, indumentária, candomblé, patrimônio.

 

 

“SALVAGUARDAR O QUE NOS MESTRES SEMPRE SALVAGUARDAMOS”: AS POLÍTICAS PÚBLICAS NA GINGA DA CAPOEIRA

                                                                                                 Geslline Giovana Braga

                                                                                              Doutoranda USP – Universidade de São Paulo

 

A Capoeira recebeu o duplo de registo como manifestação e saber, tornando patrimônio cultural imaterial do Brasil a Roda de Capoeira e o Ofício de Mestres,  registrados em 2008, num processo que iniciou-se 2004. Desde então, os “rituais de patrimonialização” deste bem afro-brasileiro, apresentam “dramas” que traduzem as tensões entre as dinâmicas das manifestações culturais - caracterizadas por sua iminência - e as políticas públicas culturais de patrimônio, com a finalidade de eximinência. O presente artigo pretende compreender o conceito de patrimônio dos capoeiristas e como este impõem ao estado - tanto no processo de registro quanto na execução da salvaguarda - a flexibilização das políticas das políticas públicas,  que pode ser compreendida de forma análoga a ginga, movimento característico da prática, que garante graça ao jogo/arte/luta, a torna multidimensional e transforma o golpe em esquiva.               

Palavras-chave: Capoeira, Patrimônio Imaterial, Cultura Afro-brasileira, Registro e Salvaguarda

 

 

A REDUÇÃO DE SENTIDO E OS PROCESSOS DE OBJETIFICAÇÃO DE INSTITUIÇÕES CULTURAIS NO ECÚMENO ATLÂNTICO (BRASIL, CABO VERDE E GUINÉ-BISSAU)

Wilson Trajano Filho

Universidade de Brasilia

 

A patrimonialização dos bens culturais implica um processo de escolha, seleção e redução do significado a eles atribuído. O Estado e suas instituições são atores centrais nesse desenrolar. Dada a sua lógica operacional, que trabalha no sentido de produzir definições de natureza normativa, suas escolhas podem parecer arbitrárias e alienantes. Por envolver seleção (dos significados dados aos artefatos, de uma versão dentre tantas outras da história ou memória do grupo), a patrimonialização opera no sentido de reconfigurar as tradições e é parte da dinâmica da cultura política das sociedades nacionais. Assim, mais do que alienação ou seleção arbitrária, a objetificação dos bens culturais é uma evidência de sua apropriação por parte dos atores sociais envolvidos no debate da política cultural de um modo tão transformado que raramente se mantêm os sentidos “originais” dados pelas comunidades ao bem cultural no decorrer do processo de patrimonialização.

Pelo exame dos processos de pré-patrimonialização (que atecedem as candidaturas formais e institucionais aos diplomas de patrimônio cultural) de um bem cultural da Guiné-Bissau (as manjuandadis), de Cabo Verde (as tabancas) e da patrimonialização do samba de roda do recôncavo baiano, pretendo mostrar o processo de redução semântica que transforma essas instituições totais de solidariedade, reciprocidade e convivialidade em ícones das culturas nacionais e em gêneros musicais.

 

 

COLEÇÃO ETNOGRÁFICA AFRO-RELIGIOSA DA UFPA: A MEMÓRIA DO POVO DE SANTO

Alessandro Ricardo Pinto Campos – doutorando pelo Programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Pará; ricardocamps@yahoo.com.br

 

O acervo da Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo - LAANF/UFPA - é uma imensa coleção formada por objetos que foram coletados durante pesquisas realizadas por antropólogos desta instituição, a partir da década de 1960. A formação deste acervo se confunde com a formação da própria Antropologia na Universidade Federal do Pará. A coleção etnográfica População Urbana/Cultos Afro-Brasileiros, que faz parte deste acervo, possui 629 peças coletadas pelos pesquisadores Arthur Napoleão Figueiredo e Anaíza Vergolino Silva em diversos terreiros de Tambor de Mina, em Belém, que inauguram os estudos acerca da religiosidade afro-brasileira pela antropologia no estado do Pará. Durante décadas depositadas na referida reserva e com acesso restrito, os tambores, guias, imagens e indumentárias, peças de incalculável valor simbólico e cultural, contam a história do povo de santo da cidade. Somam a esse acervo uma vasta coleção de fotografias da época, de pesquisas de campo, rituais, casas de santo, pais, mães e filhos de santo.  “Nossa memória está guardada aí”, disse certa vez, uma famosa mãe de santo, se referindo às peças do acervo e às pesquisas feitas por Arthur Napoleão e Anaíza Vergolino, muito queridos e respeitados. Este artigo trata das pesquisas, coleta e formação desta coleção, bem como das inquietações e a dificuldades em tornar público o acesso a tais peças.

Palavras-chave: Reserva Técnica da UFPA, Cultura Material, Religiosidade Afro-brasileira, Tambor de Mina, Patrimonialização.

 

 

DAS SENZALAS AOS MUSEUS: MEMÓRIA E PATRIMONIALIZAÇÃO DA ARTE AFRO-BRASILEIRA

Hélio Santos Menezes Neto. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo (PPGAS-USP); mestrado; heliosmenezes@gmail.com

 

Este trabalho versa sobre o tema inconstante da categoria afro-brasileira, simultaneamente aplicada a populações e obras de arte, e atrelada à constituição e processos de diferenciação das identidades negras no Brasil. Nosso objetivo é refletir de que modo se desenvolve(u) a patrimonialização da arte afro-brasileira, apontando para as contradições de sua capacidade classificatória no interior de uma sociedade pluriétnica como a nossa e para os circuitos de sua produção, recepção e transmissão. Destarte, tomaremos o Museu Afro-Brasil (MAB-SP), a partir das exposições que o antecederam e lhe deram corpo (e.g. A Mão Afro-brasileira, 1998; Vozes da Diáspora, 1993; Negro de corpo e alma, 2000, entre outras), como espaço privilegiado de análise etnográfica.

Seu enfoque se realiza em duas dimensões complementares: dos caminhos dessa arte, tomada por diferentes objetivos políticos como discurso de fronteira estético-identitária, e de como o MAB, na medida em que se propõe um espaço de memória para (segundo sua própria descrição) “registrar, preservar e argumentar a partir do olhar e da experiência do negro a formação da identidade brasileira”, encaminha para uma reflexão necessária sobre mestiçagem e racismo, questionando a já surrada perspectiva de sujeição/assimilação/aculturamento dos afrodescendentes às estruturas socioculturais dominantes, para pôr em relevo sua capacidade de agenciamento e criatividade como colonizadores ativos, ainda que silencioso(-ado)s, do país da “democracia racial”. Subjaz ao entendimento geral do estudo a existência de uma relação incerta, porém constante, entre os domínios da especificidade desse campo artístico e as contingências da taxinomia racial engendrada na sociabilidade brasileira.

Palavras-chave: arte afro-brasileira; museu afro-brasil; raça; identidade nacional.

 

 

TOMBAR O AXÉ: POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA PATRIMONIALIZAÇÃO DOS BENS CULTURAIS RELIGIOSOS DE MATRIZ AFRICANA NO BRASIL

Bruno Barbosa Heim. Professor de direito da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental. Especialista em Direito Público; brunoheimadv@gmail.com

Thiago de Azevedo Pinheiro Hoshino. Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisador do INCT Observatório das Metrópoles. Membro do Fórum Paranaense das Religiões de Matriz Africana e do Instituto Brasileiro de História do Direito. Professor da disciplina de “Patrimônio Histórico-Cultural” na Especialização em Direito à Cidade e Gestão Urbana (Universidade Positivo/AMBIENS Cooperativa); hoshino.thiago@gmail.com

 

Do tombamento da Casa Branca do Engenho Velho (um dos templos-matrizes dos cultos afro-brasileiros na cidade de Salvador), em 1986, ao registro do Ofício das Baianas de Acarajé (alimento votivo dedicado a Iansã, divindade de origem nagô-iroubá) como patrimônio nacional, em 2004, urge avaliar criticamente as experiências de patrimonialização levadas a cabo até o momento. Nesta perspectiva, a interpretação sobre as disputas que emergem na eleição e gestão dos bens culturais das religiões de matriz africana, seja com outros grupos sociais, seja com o próprio Estado, tem de considerar o contexto contemporâneo de acirramento das tensões inter-religiosas e dos conflitos sócio-territoriais, nacionalmente. Sob este enfoque espacial, que articula a dinâmica da materialidade e da imaterialidade, destacam-se três tipologias conflituais que desafiam os instrumentos e regimes de proteção existentes: a) a regularização fundiária dos terreiros e a garantia de privacidade de suas práticas, em face da pressão avassaladora da urbanização no entorno imediato; b) as sanções oficiais como oficiosas sofridas pelo uso ritual (conjugado, por vezes, a usos comerciais, como no caso das baianas vendedoras de acarajé) do espaço urbano, sobretudo dos logradouros públicos, como ruas, encruzilhadas, cemitérios e praças; c) os obstáculos ao acesso a locais de culto de natureza sagrada, como matas, praias, rios e cachoeiras, amiúde propriedade privada. Esse conjunto de ‘lugares de axé’ compõe uma intricada trama urbano-rural, em si mesma um relevante bem cultural. Em certa medida, o diálogo e o sincretismo cognitivo entre as concepções institucionais sobre o ‘tombar’ ou ‘inventariar’ o patrimônio e as categorias comunitárias-nativas de ‘plantar’ ou ‘levantar’ o axé podem oferecer interessantes contribuições para repensar as formas de proteção de tradições que, embora plantadas, circulam e se ramificam incessantemente.

Palavras-chave: patrimônio cultural; diáspora negra; religiões de matriz africana; conflitos territoriais; lugares de axé.

 

 

MEMORIAL DE TERREIRO DE CANDOMBLÉ NA CIDADE DE ILHÉUS, BAHIA: MEMÓRIAS E PRESERVAÇÕES

Ana Cristina Mandarino. Professora Adjunta I. Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia

Matheus Santos Lobo. Bacharelando em Geografia Bacharelado Universidade Estadual de Santa Cruz, Bahia. bolsista de Iniciação Científica/FAPESB

 

Memoriais de Terreiros de Candomblé foram organizados a partir dos anos 90 como um instrumento efetivo para a preservação da memória afro brasileira religiosa agregando a políticas de tombamento a estes espaços religiosos, efetuadas pelo poder público na década anterior.

Os Terreiros de Candomblé possuem uma tradição baseada na oralidade, onde os valores são repassados nas tarefas cotidianas e no aprendizado ritual. No entanto, esta memória, que durante muito tempo foi o alicerce que possibilitou a transmissão de práticas e de saberes, se viu fragmentada pelas mortes de mais velhos, pelos tabus da iniciação e pela perda dela própria.

Assim, em uma atitude pioneira, surge na década de 90 no Rio de Janeiro, o primeiro Memorial erguido neste espaço religioso com o objetivo de preservar a memória da Casa e seguida por Terreiros no Estado da Bahia.

Diante do exposto, o estudo apreende a criação do Memorial Inzo Mutemba, instalado no Terreiro Matamba Tombeci Neto, fundado em 1885, na Cidade de Ilhéus, Estado da Bahia, identificando os motivos de seu funcionamento, analisando os conteúdos presentes de homenagens e nas repercussões sociais deste espaço museal sacro afro-brasileiro na região.

Palavras- Chaves: Candomblé, Memorial, Terreiro Tombeci Neto, memória, preservação patrimonial

 

 

COLEÇÃO PERSEVERANÇA – UM DOCUMENTO SILENCIOSO DOS XANGÔS DE MACEIÓ (ALAGOAS), BRASIL 

Larissa Fontes(PPGA-UFBA); fontesla@gmail.com 

 

O objeto desta pesquisa, ainda em andamento, é a Coleção Perseverança, uma reunião de objetos roubados dos terreiros de xangô, no episódio de repressão político-religiosa intitulado Quebra de Xangô. Este episódio ocorreu no ano de 1912, em Maceió e adjacências e talvez tenha sido o mais brutal episódio de repressão a cultos de matriz africana no Brasil. A Coleção está sob tutela do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), um museu silencioso. Não conta a história das peças, não conta sua origem. Não as analisa e nada argumenta. Reifica a violência sofrida. O estado das peças é deplorável. Uma das peculiaridades dessa Coleção é que sua exposição museológica não resultou de uma pesquisa etnográfica e as informações que referenciam suas peças são duvidosas quanto a seus empregos rituais e mesmo quanto à identificação primária. A análise das peças, depois de devidamente identificadas e referenciadas, permitirá a criação de hipóteses de como eram as práticas dos xangôs alagoanos à época da repressão, no século passado, com destaque para um possível grande intercâmbio entre Alagoas, Bahia e África. O objetivo desta pesquisa é prover informações que irão além da descrição formal do objeto como matéria-prima, mas também seus usos e significados, a importância e simbologia para o grupo de origem. Isso se dará a partir de entrevistas com religiosos, pesquisadores e mantenedores do acervo, bem como análises comparativas com outras coleções etnográficas afro-brasileiras. Assim, será possível dar à Coleção um real estatuto de Coleção Etnográfica, o que ela hoje não tem. 

Palavras-chave: Xangôs; Museu; Coleção Etnográfica; Afro-brasileira; Alagoas. 

 

 

A COLEÇÃO PERSEVERANÇA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALAGOAS: VESTÍGIOS DA VIOLÊNCIA CONTRA OS TERREIROS DE MACEIÓ (ALAGOAS, BRASIL), EM 1912

 

Ulisses Neves Rafael. Professor Associado III da Universidade Federal de Sergipe. Doutorado em Sociologia e Antropologia (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais/Universidade Federal do Rio de Janeiro). Pós-doutorado (Centro de Estudos Sociais/Coimbra/Portugal); ulisses38@hotmail.com

 

Na primeira década do século passado, no Estado de Alagoas, Brasil, período que ficou conhecido como “Era dos Malta”, devido à longa permanência do então governador Euclides Vieira Malta no poder, as casas de culto afro-religioso foram vítimas de um dos episódios mais violentos de que se tem notícias na literatura brasileira sobre o assunto e que implicou na destruição dos principais terreiros da capital Maceió e arredores, além de forçar a  dispersão das principais lideranças religiosas do local.

Aqueles que permaneceram no local, foram forçadas a manter suas práticas religiosas de forma discreta e silenciosa, modalidade que trinta anos depois seria registrada pelo pesquisador pernambucano, Gonçalves Fernandes, como “xangô rezado baixo”.

Algumas poucos peças sobreviveram à devassa aos terreiros, realizada por membros da Liga dos Republicanos Combatentes e que hoje compõem a Coleção Perseverança do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, a partir da qual é possível, não apenas indagar acerca do sentido da preservação e conservação de tais objetos, como também, refletir sobre a reconstituição da memória do período em que essas casas supostamente gozaram da proteção do Governador do Estado.

Palavras chave: Religião afro-brasileira; Perseguição religiosa; Coleção Perseverança.